Após perder a visão, filho cria bicicleta adaptada para pedalar junto com a mãe
Fernando nasceu com descolamento de retina
Desde que nasceu, Fernando Soaris trouxe consigo um problema na visão e com o decorrer do tempo, aquilo que os médicos temiam aconteceu: aos 38 anos, ele teve descolamento de retina e precisou ser levado com urgência à Natal (RN) para uma cirurgia de emergência. No entanto, como o valor do procedimento era muito alto, o SUS não cobriu… E foi aí que sua luta começou.
“Fernando nasceu com descolamento de retina. Esse problema, em caso de necessidade de operar, se for de urgência, aí tem jeito [de tratar]. Se a cirurgia for feita em até 48 horas ele pode enxergar, após o procedimento, até 2 metros a frente dele. Mas se passar desse prazo, aí não tem mais jeito”, disse Zuleide Soaris, mãe de Fernando.
Na época, Dona Zuleide correu com o filho para a capital potiguar na tentativa de conseguir a cirurgia, mas seus planos logo se frustraram. “Quando cheguei na Secretaria de Saúde, as autoridades não autorizaram via SUS”.
Mesmo após conseguir uma ordem judicial, o poder público foi moroso com Fernando, ao ponto das 48 horas passarem e ele não conseguir a cirurgia.
“Então fui no médico e perguntei se ele poderia fazer no particular”, disse a idosa. Ele disse que fazia, mas não garantiu que o procedimento seria bem-sucedido em Fernando. “Meu filho tinha 5% de chance de voltar a enxergar”.
Apesar do prognóstico ruim, Dona Zuleide depositou esperança no médico e decidiu pagar pela operação – R$ 8 mil. Infelizmente, trinta dias depois, Fernando desenvolveu glaucoma e ficou permanentemente cego.
O descolamento da retina ocorre quando há o desprendimento da estrutura no globo ocular. Além disso, a separação da retina cessa o fornecimento necessário de nutrientes para o olho.
Como resultado, ocasiona degeneração celular e rapidamente pode evoluir para a cegueira.
Sabendo que não ia mais enxergar, Fernando disse que ficou muito triste com a situação e que teve vontade de tirar a própria vida. “Quando eu perdi a visão, foi muito difícil pra mim. Fiquei revoltado e pensei em acabar com tudo”, disse o filho de Dona Zuleide.
“Eu lembro de ter chegado em casa [depois de descobrir que Fernando ficaria cego] e disse comigo mesma: ‘Meu Deus, o que eu vou fazer com ele?’”, lembrou a idosa.
Ela convenceu o filho a fazer academia e a continuar frequentando seus espaços favoritos, incluindo festas, que Dona Zuleide passou a ir com ele.
“Nunca deixei de sair com ele, de estar ao seu lado. Aos poucos ele foi se adaptando e deixou a tristeza de lado”, contou a progenitora.
Bike adaptada
A ideia de criar uma bicicleta “dupla” veio pouco depois. Sozinho, Fernando construiu e adaptou a bike, surpreendendo a mãe.
Inspirado, ele começou a confeccionar objetos de madeira, como cadeiras, camas, mesas e artigos de decoração, que vende para amigos e conhecidos.
Curiosamente, o dom do artesanato surgiu após a deficiência visual total. “Foi difícil, sim, mas aprendi sozinho”, contou Fernando.
Graças à mãe e aos amigos, ele deu a volta por cima! E foi no pedal e no artesanato que Fernando encontrou motivos para viver.
Hoje em dia, a bike adaptada que o potiguar criou é sua principal forma de locomoção pela cidade, sempre ao lado de Dona Zuleide.
O amor de Dona Zuleide foi transformador. Parabéns pra essa mãe por todo o comprometimento. E Parabéns a Fernando por toda garra! 👏